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O QUILOMBO DO AMBRÓSIO DE IBIÁ, 1759

O Quilombo do Ambrósio de Ibiá, 1759 – foi o Segundo e não pode ser confundido com o Primeiro e nem com suas Relíquias (1746), que ficavam em Formiga, Cristais e Aguanil – se localizava mesmo em terras situadas entre Campos Altos e Ibiá.. Confira esta matéria e conhecerá documentos inéditos sobre o Segundo Quilombo do Ambrósio, o de Ibiá-MG.

Os primeiro e segundo documentos a localizar e a mencionar o Quilombo de Campos Altos e Ibiá com o nome de “Quilombo do Ambrósio” são cartográficos: 1º) Mapa de Todo o Campo Grande (1763), do capitão Antônio Francisco França testemunha contemporânea das batalhas de 1759, fonte primária; 2º) Mapa-roteiro, planta do quilombo e relatórios de Inácio Correia Pamplona, supostamente de 1769, fonte secundária.

Depois desses documentos, a Revista do Arquivo Público Mineiro – APM publicou entre 1904 e 1910 vários documentos-artigos, fontes de segunda, terceira e até um folhetim, onde se destacam a Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha (1793), articulada na verdade por Inácio Correia Pamplona, e Quilombolas – Lenda Mineira Inédita com vistas a cimentar a falsa informação de que praticamente todas as guerras quilombolas dos anos setecentos teriam tido como palco o sítio de Campos Altos/Ibiá, isto com vistas a conseguir tomar o Triângulo, hoje Mineiro, de Goiás e, depois, justificar o esbulho perante as autoridades goianas e esconder as fraudes-meio utilizadas para isto.

O engenheiro e historiador Álvaro da Silveira divulgou em 1924, em seu Narrativas e Memórias, o famoso Círculo do Ambrósio, a Ferradura indicada por Inácio Correia Pamplona, hoje, indicada pelo IPHAN para tombamento a ser aperfeiçoado por novas informações e documentos.

O local do sítio tombado pelo IPHAN parece ser mesmo aquele apontado pelo mapa-roteiro de Inácio Correia Pamplona. Porém, o mapa do capitão Antônio Francisco França, interpretado à luz do mapa dos municípios de Ibiá e São Gotardo de 1939 – sem excluir o local apontado por Pamplona como uma Quipaca ou Paiol do Quilombo – indica que o local todo do Segundo Quilombo do Ambrósio abrangeria, isto sim, a forquilha de nascentes do ribeirão do Quilombo, tendo a norte o ribeirão do Quilombo e a sul o córrego do Quilombo do Ambrósio.

Depois disto, ninguém mais pesquisara novas fontes, limitando-se às repetições de informações eivadas de erros e má-fé, mormente, a partir dos expedientes engendrados por Inácio Correia Pamplona em sua luta para adulterar os fatos passados e recriar fatos novos para dar subsídio para o abocanhamento político-administrativo do Triângulo que sempre fora goiano e que – graças a essa rede de falsidades – passou a ser mineiro em 1815.

Apresentamos abaixo documentos e informações inéditas sobre o Segundo Quilombo do Ambrósio que, realmente, se localizava dentro da Fazenda do Quilombo ou Fazenda do Quilombo do Ambrósio que, segundo os mapas de 1939, se localizava desde barra do córrego do Chumbado no mesmo ribeirão do Quilombo, hoje município de Ibiá, até o interior do triângulo de nascentes do ribeirão do Quilombo, subdivididas em ribeirão do Quilombo e córrego do Quilombo do Ambrósio, hoje, município de Campos Altos. Confira a transcrição do documento com os seus originais “lincados” diretamente ao documento arquivado no APM.

LIVRO DE REGISTRO DE TERRAS ARAXÁ – Notação TP-1-011, 1855-1857 – APM

Observação: Ibiá e Campos Altos, a esta época pertenciam a Araxá. Note-se que, apesar de ter sido anexado a Minas Gerais em 1815-1816, no governo eclesiástico, o Triângulo continuou a pertencer ao Bispado de Goiás.

Registro nº 351

O abaixo assinado é possuidor de umas partes de terras na Fazenda do Quilombo que houve por falecimento de seu pai, José Francisco Xavier, cuja parte é de 40$000 réis. Quilombo, distrito de São Pedro de Alcantra, município de Araxá, 3 de janeiro de 1856. Francisco José Xavier.

Registro nº 353

Eu, abaixo assinado, dou a registro as partes que tenho na Fazenda do Quilombo do Ambrósio, na quantia de 100$000 réis, no distrito de São Pedro de Alcantra, cuja divide com os proprietários seguintes, herdeiros de João de Souza Reis ditos de Domingos José Ribeiro, ditos do alferes Leandro Ribeiro da Silva, ditos do capitão Vicente Ribeiro da Silva, ditos de dona Rita. Fortunato Pereira Xavier (sic). (sem data), mas é de 1856.

Registro nº 363

Eu, abaixo assinado, possuo uma parte de terras e pastos na fazenda denominada Quilombo, distrito de São Pedro de Alcantra, segundo consta os autos. Araxá, 02 de abril de 1856. José Pinto Rodrigues.

Registro nº 395

Eu, abaixo assinado, dou a registro as partes que tenho na Fazenda do Quilombo do Ambrósio na quantia de 860$000 réis, no distrito de São Pedro de Alcantra, cuja divide com os proprietários seguintes: herdeiros de João de Souza Dias, ditos de Domingos José Ribeiro, ditos do alferes Leandro Ribeiro da Silva, ditos do capitão Vicente Ribeiro da Silva, ditos de dona Rita. Forturnato Pereira de Oliveira (sic).

Registro nº 404

Eu, abaixo assinado, dou a registro as partes que tenho na Fazenda Quilombo do Ambrósio na quantia de 130$000 réis, no distrito de São Pedro de Alcantra, cuja divide com os proprietários seguintes: herdeiros de João de Souza Reis, ditos de Domingos José Ribeiro, ditos do Alferes Leandro Ribeiro da Silva, ditos do capitão Vicente Ribeiro da Silva. Ditos de dona Rita. Manuel José de Oliveira.

Registro nº 408

O abaixo assinado é possuidor de uma parte de terras na Fazenda do Quilombo que houve por falecimento de seu pai, Francisco Xavier, cuja parte é de 40$000. Quilombo, distrito de São Pedro de Alcantra, município de Araxá, 13 de fevereiro de 1856. Fortunato José Xavier.

Registro nº 571

Dou a registro a parte de terras que tenho na Fazenda do Quilombo no valor de 175$000 réis; assim mais uma parte de terras na Fazenda da Cachoeira no valor de 30$000 réis, todas no distrito de São Pedro do município de Araxá. 09.04.1856. A rogo de Manuel Gonçalves Lino, José Francisco Xavier.

Registro nº 572

Dou a registro a parte de terra que tenho na Fazenda do Quilombo no valor de 40$000 no distrito de São Pedro, município de Araxá. 09.04.1856. A rogo de minha mãe Maria Fernandes de Oliveira, José Francisco Xavier.

Registro nº 587

Dou a registro a parte que tenho na Fazenda do Quilombo no valor de 135$000 réis; assim mais uma parte da Fazenda da Cachoeira (etc.) 08.04.1856. José Francisco Oliveira.

Em nossas pesquisas não localizamos nos registros de terras (1855/1857) de Araxá qualquer referência a expressões como “Circo” ou “Círculo” do Ambrósio, ou qualquer outra que pudesse estar se referindo à Ferradura de Inácio Correia Pamplona. Pedimos que nossos colegas historiadores ajudem a descobrir mais informações, lendo e conferindo esse mesmo livro de registro de terras.

Tarcísio José Martins – para MGQUILOMBO – 17.09.2013.