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Antirracismo: a retórica vazia -x- o combate efetivo

Em 11 de março de 2024, recebemos uma mensagem WhatsApp uma pessoa que se disse ser a Sra. “****, diretora da Pós-graduação da Escola Judicial – Ejug do Tribunal de Justiça de Goiás”, telefone +55 62 997*-***.

Disse-nos que a “Ejug lançou em 2023 a Revista Goyazes, e neste ano de 2024, o tema será igualdade racial e comunidades quilombolas. O Diretor da EJUG, Desembargador Jeronymo, solicitou que eu entrasse em contato com o senhor para convidá-lo a escrever um artigo para nossa revista, cuja capa será uma homenagem ao Rei Ambrósio, um dos líderes do Quilombo do Campo Grande. Seu artigo seria de grande valia para a Revista Goyazes”.

Respondi-lhe que “sinto-me honrado com o convite. Sim posso escrever. Para quando vocês precisam do artigo?”

Ela respondeu: “Que maravilha! Temos um lançamento no dia 18 de abril, mas o senhor pode encaminhar a qualquer momento”.

Confirmei através de telefone oficial dessa entidade pertencente ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás e, assim, passei a elaborar gratuitamente o artigo solicitado.

Tendo em vista que os temas da Revista seriam “Igualdade racial e comunidades quilombolas”, levando em conta o centenário racismo estrutural que nos assola, falar do primeiro tema é falar da Desigualdade Racial e suas consequências, especialmente numa Revista que se comprometeu a ter como capa o Rei Ambrósio da Confederação Quilombola do Campo Grande, Minas Gerais, 1726 a 1760.

Assim, em 22 de março de 2024, enviei à Sra. ***, também por WhatsApp, o artigo “Quilombos do Rei Ambrósio: A História de Minas Roubada do Povo”, de 32 páginas, sob o seguinte histórico:    “Seguem em anexo dois arquivos do texto, um em PDF e outro em WORD aberto, este último  para que o tamanho e tipo dos caracteres possam ser padronizados na forma e paginação da Revista. Fico à disposição para qualquer esclarecimento ou explicação. Grato”.

Em 26 de março a Sra. *** nos respondeu: “Bom dia, dr. Tarcísio! Confirmo o recebimento de seu artigo. Muito obrigada por encaminhar para a Revista Goyazes”.

O tempo passou. Sem notícias, perguntei à mesma Senhora – também via WhatsApp: “Houve o lançamento da Revista? Algum problema com o meu artigo? Grato”.

Dias depois, ela me respondeu: “Bom dia, Dr. Tarcísio. Desculpe pela demora na resposta. Estávamos aguardando o retorno dos pareceristas. Infelizmente, o pareceres não foram favoráveis à publicação do artigo, por não se adequar ao escopo da revista. Agradecemos pelo encaminhamento e pela sua prontidão em nos atender”.

Respondi-lhe: “Grato. Vocês poderiam me mandar esses pareceres para que eu possa melhorar numa outra oportunidade?”. Ela me respondeu que “Sim. Vou solicitar”. Mas, até a presente data, 6 de maio de 2024, nenhuma resposta me deu. Obs.: Quando a Sra. *** nos pediu o artigo, não nos disse que seríamos submetidos aos tais “pareceristas” da Revista.

Como temos denunciado, muitas pessoas e entidades têm atacado o racismo por via indireta. Ou seja, utilizam demagogicamente o poder midiático dessa palavra – mesmo que pela sua contrária: “igualdade racial” – para não se comprometer e nem mostrar a pessoa ou pessoas que praticaram as ações contidas no substantivo e  adjetivo hoje criminalizado, pois no Brasil não há igualdade e sim desigualdade racial. Aliás, a recusa ao nosso artigo não nos surpreendeu, visto que o desembargador Jeová Sardinha do TJ de Goiás chamou de modismo as denúncias de assédio sexual e racismo. Pelo visto, não tiveram também um pingo de respeito ao trabalho deste historiador que jamais pediu para escrever para a sua Revista e sim atendeu ao pedido da mesma, gratuitamente.

A História dos Quilombos do Campo Grande, do Rei Ambrósio, uma confederação três vezes maior que Palmares, é um exemplo claro dessa desigualdade (ou racismo), roubada de nossa Historiografia como foi desde os anos setecentos e escondida ainda mais ao final dos anos oitocentos e começo dos novecentos pelos nossos historiadores, inclusive com o uso de falsas fontes de informação publicadas pela Revista do Arquivo Público Mineiro, entidade que, ao contrário, tinha e tem a obrigação estatutária de zelar pela História das Minas Gerais, inseparável da História do Negro desde os seus primórdios.

Nesse artigo, contamos a história de nossa luta, desde o ano de 1983, para resgatar e devolver ao Brasil essa História roubada do povo, ou seja, a História dos “Quilombos do Rei Ambrósio: A História de Minas Roubada do Povo”. Assim, tendo sido o nosso trabalho recusado pela Revista do Ejug e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, resolvemos publicá-lo aqui no MGQUILOMBO, para que nossos leitores possam usufruir desse nosso trabalho. Clique aqui e boa leitura.