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DOIS Quilombos do Ambrósio. Um em Cristais-MG outro em Ibiá-MG

O historiador que mais se aprofundou sobre o tema acima citado, sem dúvida foi Waldemar de Almeida Barbosa. Nascido em 23.10.1907 em Dores do Indaiá-MG, filho de militar, professor, administrador e historiador, faleceu em 04.12.2000, na cidade de Belo Horizonte – MG.
Entre seus numerosos livros, segundo matéria publicada pela Associação de Amigos de Dores do Indaiá – ADI, “Alguns deles devem ser destacados como “A Bandeira de Minas Gerais”, “A verdade sobre Tiradentes”, “Tiradentes Patrono Cívico do Brasil”, “O Triângulo na Bandeira Tiradentes”, “A Capitania de Minas Gerais”, “Geografia Humana e Econômica do Brasil”, “A Câmara dos Deputados como fator da Unidade Nacional”, “A História de Minas” (em 3 volumes), “O Aleijadinho de Vila Rica”, “A verdade sobre Cláudio Manoel da Costa”, ” Pequena História da Polícia Militar de Minas” e outros”.

Para estudantes, professores e pesquisadores de História, o mais lembrado dos livros do Professor Waldemar é, sem dúvida, “Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais“. Indispensável. Quanto ao seu livro “Negros e Quilombos em Minas Gerais“, parece que o próprio Almeida Barbosa não o colocava entre seus melhores.
Realmente, quando lhe pedi sugestões para a minha pesquisa sobre os Quilombos do Campo Grande, o próprio Professor Waldemar, em carta-resposta de 06.10.1990, deixou-me a impressão de que não ficara satisfeito com esse livro, uma vez que me disse: “Penso que mais útil que o livro ‘Negros e Quilombos’ lhe seria outro livro meu, ‘A Decadência das Minas e a Fuga da Mineração’, também esgotado“.

Após ter lido ambos os livros fiquei encantado com a capacidade de pesquisa de Almeida Barbosa. No entanto, aquele que mais se entranhou à historiografia quilombola, sem dúvida, foi o Negros e Quilombos em Minas Gerais.

Porém, Almeida Barbosa trouxe, em “Negros e Quilombos“, dados que indicam claramente a existência de uma sistematização – que ele negou – na luta dos quilombos do Campo Grande, onde o Quilombo do Ambrósio ocuparia o lugar de destaque. Deixou pistas evidentes de conotações – que ele não explorou – entre as batalhas de 1741, 1743, 1746 e 1758-1760. Além disto, apesar de vislumbrar os palcos das primeiras lutas nas “imediações de Piuí e Formiga“, excluiu dali o Ambrósio que, a seu ver, sempre teria se localizado em Ibiá, onde nega e chega a ironizar as tímidas indicações dos colegas Leopoldo Corrêa[1] e L. Gonzaga Fonseca[2]. Este foi seu grande equívoco: Houve DOIS Quilombos do Ambrósio sim. Mas, o primeiro deles, atacado em 1746, ficava mesmo na “imediações de Piuí e Formiga“, precisamente ao norte da atual cidade de Cristais-MG.

Para demonstrar a distinta localização dos dois quilombos do Ambrósio – um atacado em 1746 (Formiga-Cristais) e outro em 1759 (Campos Altos-Ibiá) – vamos demonstrar os enganos e equívocos de Waldemar de Almeida Barbosa, ao supor que o Quilombo do Ambrósio atacado em 1746 pelo capitão Antônio João de Oliveira também se situasse na região limítrofe entre as atuais cidades de Ibiá e Campos Altos, para onde, na verdade, se mudaram os quilombolas somente após a mencionada guerra de 1746, sendo, este segundo Quilombo do Ambrósio, encontrado evacuado (vazio) Bartolomeu Bueno do Prado em 1º de setembro de 1759, e queimado somente no dia 8 desses mesmos mês e ano onde, portanto, nunca houve confronto ou batalha.

A impressão que temos é a de que, o Professor Waldemar, embora tenha tentado disfarçar, sempre acreditou mesmo que os negros foram muito bem tratados pelos seus senhores[3] e que, além disto, sempre foram muito submissos ao regime escravista. Agora, o pior foi o Professor afirmar que as “lendas” neste sentido, teriam sido criadas pelos próprios negros[4]. Evidente o equívoco.

Assim, entendendo Almeida Barbosa que os negros eram submissos e conformados com a escravidão, seu livro não exsurge de pesquisas forras, na medida em que, salvo melhor juízo, ele as direcionou para levar aos seus leitores a essência destes pré-julgamentos com que o preambulou. Senão, vejamos.

A introdução do capítulo “IV – Quilombo do Ambrósio“, de “Negros e Quilombos“, submetida à outra verdade inscrita e outras páginas desse mesmo livro, já revela contradição insanável:

No capítulo “VII – A Revolução que Não Houve“, onde quis associar um outro fato de 1821 aos Quilombos do Campo Grande, na verdade para projetar nestes a idéia subliminar da epígrafe, Waldemar admite que “a Revista do Arquivo Público Mineiro, ao lado de documentos valiosíssimos publicou também vários trabalhos destituídos de qualquer valor histórico. Como exemplo, podemos citar “Quilombolas – Lenda Mineira Inédita – por Carmo Gama, constante do volume IX[5].

No entanto, na introdução do capítulo IV do mesmo “Negros e Quilombos“, onde Waldemar quis provar que só houve um único Quilombo do Ambrósio, o de Ibiá, ele lançou em seu 2º parágrafo exatamente as informações criadas e citadas somente pelo romancista Carmo Gama no seu “Lenda Mineira Inédita“, a exemplo de “todas as qualidades de um bom general“, “caçadores, magarefes e agricultores“, claro, sem citar qualquer fonte. etc.[6]. Como se vê, logo de cara, dois pesos e duas medidas para uma mesma fonte, como, aliás, próprio autor volta a validar ao início da página 32 do seu mesmo livro. Porém, na página 79, como se viu acima, a invalida. Esta contradição compromete a imparcialidade do autor.

Trabalhando com uns poucos documentos dos códices 45, 50, 76 e 84 da SC do APM, mas deixando de citar a maioria dessas fontes, Waldemar omitiu, por exemplo, as várias indicações desses documentos de que o quilombo atacado em 1746 ficava na Comarca do Rio das Mortes[7]. Seu objetivo, neste capítulo, foi provar, contra tudo e contra todos, que os dois quilombos do Ambrósio só existiram em Ibiá. Exagerou.

Menciona pedaços da carta de Gomes Freire ao rei, datada de 08.10.1746[8], faz retrospecto onde incide em total equívoco também sobre os locais dos ataques de 1741 e 1743, arrematando com a seguinte premissa-insinuação:

Muita tinta se tem gasto sobre a localização do Quilombo do Ambrósio, quando os documentos são claríssimos a respeito. A própria carta de Gomes Freire de Andrada, de que publicamos acima alguns trechos, é precisa na sua localização: na parte do Campo Grande, entre a Comarca de São João Del Rei e a de Goiás[9]. Negritamos a palavra “entre”.

Ora, será que o Professor Waldemar não sabia que, em 1746, as fronteiras da “Comarca de São João Del Rei e a de Goiás” haviam chegado somente ao Arraial do Tamanduá? Será que não sabia que, daí para frente, em 1746, até a região da atual Piumhi, nascentes do São Francisco, no entendimento dos homens-bons de São João e São José Del Rei, TUDO ficava “entre a Comarca de São João Del Rei e a de Goiás“? Note-se que ele não afirma o contrário. Apenas insinua em premissa. Veja o que registra na sequência:

O sr. Leopoldo Corrêa, erudito pesquisador, no seu livro Achegas à História do Oeste de Minas – Formiga e Municípios Vizinhos, cita o trecho de um testamento, para concluir que o Quilombo do Ambrósio situava-se nas imediações de Formiga. Eis o trecho do referido. ‘Saibam todos quantos este instrumento de testamento virem que, sendo no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1814, aos 13 dias do mês de abril do dito ano, nesta fazenda do Quilombo do Ambrósio, na Aplicação de Nossa Senhora da Ajuda dos Cristais, Comarca do Rio das Mortes…’. Ora, conclui o autor acima citado, se a fazenda tem o nome de Quilombo do Ambrósio, logicamente foi aí, nessa fazenda perto de Formiga, que existiu o famoso quilombo[10].

Note-se que o Professor Waldemar não afirma que esse colega errou. Apenas insinua no contexto de premissas. Veja o que registrou na sequência do seu livro:

Em primeiro lugar, é preciso compreender que a expressão ‘Quilombo do Ambrósio’, pela fama que adquiriu, passou a designar vasta região. Assim, a fazenda de Constantino Barbosa da Silva localizava-se no Quilombo do Ambrósio: estava situada entre o rio Lambari, afluente do rio Grande e o rio Jacaré. No auto da medição da referida sesmaria lê-se: ‘Aos trinta de maio de 1766, nesta paragem chamada Quilombo do Ambrósio”[11].

Veja-se que sem afirmar nada, Almeida Barbosa teria provado – num aparente silogismo – que o Quilombo do Ambrósio NÃO ficava na região de Formiga. Será que provou? Claro que não. Pois a sua conclusão contrariou, isto sim, a real verdade de suas próprias premissas. Vejamos:

“Em primeiro lugar”, a expressão que passou a designar vasta região foi a expressão “Quilombos do Campo Grande” e não “Quilombo do Ambrósio”. Almeida Barbosa, aqui, contrariou grosseiramente a realidade que ele mesmo deixou escrita no verbete “Campo Grande” em confronto com o verbete “Quilombo do Ambrósio”, p. 101/192 e 396/397 do seu próprio Dicionário Histórico-Geográfico de MG, também de 1971.
As sequentes citações que Waldemar fez, também em “Negros e Quilombos”, das sesmarias de Pamplona para dizer que só em Ibiá existiu o Quilombo do Ambrósio são também absurdas. Primeiro, porque nenhuma das cartas de Pamplona diz que ALI FICAVA o Quilombo do Ambrósio. Segundo, porque a existência do Segundo Ambrósio de Ibiá não pode ser considerada como negativa do Ambrósio de Cristais. Afinal, ele insinua que conhecia o Mapa do Campo Grande. Almeida Barbosa hipervalorizou as imprecisas e posteriores cartas de sesmaria de Pamplona e tentou desmoralizar a anterior carta de sesmaria e o preciso Processo Judicial de Medição e Demarcação de Constantino Barbosa “da Cunha”, que fez passar por “da Silva”. O radicalismo em que se fechou foi tão exagerado e autista que o levou a negar a conclusão de Leopoldo Corrêa com um documento que, na verdade, confirmava o que dizia o Pesquisador de Formiga-MG. Veja-se a que ponto chegou Almeida Barbosa para manter o SEU ponto de vista contra tudo e contra todos.
Ora, nenhum outro quilombo, nem mesmo o de Ibiá, foi chamado, em uma Carta de Sesmaria ou num Processo Judiciai de Medição e Demarcação, de Quilombo do Ambrósio, com as expressões “Sítio do Quilombo do Ambrósio“, ou “paragem chamada o Quilombo do Ambrósio“, ou datando atos judiciais dentro de um Processo de Demarcação de Sesmaria, como, por exemplo “Sítio do Quilombo do Ambrósio, 2 de junho de 1766“, como está escrito no documento que citou com o nome errado, para contrapor um fato que, na verdade, confirmava e ampliava. O que é incrível é que seu livro continua sendo citado e COPIADO por dezenas de autores, inclusive em livros recentes, a exemplo dos doutores acadêmicos Clóvis de Moura e Laura de Mello e Souza, sem que se apercebam desse estupendo erro ou constate o seu propósito.
Ao desfechar a falsa afirmação acima, o Professor Waldemar atraiu para si a autoria de um sofisma, na verdade, de autoria do famigerado Inácio Corrêa Pamplona. Será que se confundiu ou contou com a provável confusão que a maioria das pessoas faria pensando que esse “rio Lambari“, fosse o outro Lambari, o afluente do Pará?

Não. Não é crível que um pesquisador culto como o Professor Waldemar de Almeida Barbosa não soubesse que esse local “entre o rio Lambari, afluente do rio Grande e o rio Jacaré” fosse o mesmíssimo e que delimitava exatamente a “Aplicação de Nossa Senhora da Ajuda dos Cristais“, referida no documento citado pelo colega Leopoldo Corrêa, atestando que ali ficava o Quilombo do Ambrósio.

Mas, não é só isto. Teria errado também no nome do Sesmeiro que citou para contrapor a informação do colega Dr. Leopoldo: chamou-o de “Constantino Barbosa da Silva”, cuja carta de Sesmaria, datada de 19.04.1765, no entanto, lhe atribui o nome de Constantino Barbosa da CUNHA[12].

E o pior. O local da sesmaria desse Constantino é o mesmo local onde o capitão Antônio João de Oliveira requereu sesmaria em 1747[13] e que, falecido este em 1759, Bartolomeu Bueno do Prado requereu a mesma sesmaria, no mesmo lugar, em 1760[14].

Tem mais. Esse Constantino Barbosa da Cunha esteve junto com Diogo Bueno da Fonseca e Bartolomeu Bueno do Prado em todos os lances do ataque ao Quilombo do Cascalho, em 1760[15], tendo assinado junto com estes todas as atas da Guardamoria de Carrancas, dando a precisa localização do Quilombo Queimado, na verdade, a Primeira Povoação do Ambrósio.

Tem mais. Uma das atas da Guardamoria de Carrancas, também assinada por Constantino Barbosa da Cunha, foi a fonte do texto-orelha do “Mapa de Todo o Campo Grande, Tanto da Parte da Conquista, que Parte com a Campanha do Rio Verde, e São Paulo, como de Pihui, Cabeceiras do Rio de São Francisco e Goiases“, mapa este que mostra, exatamente “entre o rio Lambari, afluente do rio Grande e o rio Jacaré” o topônimo “Primeira Povoação do Ambrósio – Despovoada“. Almeida Barbosa citou esse mapa, em outro contexto, onde também se equivocou[16], mas nada comenta sobre a duplicada indicação toponímica nas regiões das atuais Cristais e Ibiá, respectivamente, “Primeira Povoação” e “Quilombo“, ambas do Ambrósio.
Neste erro, ou desatenção, Almeida Barbosa não ficou sozinho. Todos os demais historiadores e geógrafos que mencionaram esse mapa também nada viram. Nem mesmo que estavam estudando esse mapa de “cabeça para baixo”. A informação sobre a duplicidade toponímica e a inversão do norte nesse mapa foi divulgada pela primeira vez em 1995, em nossa primeira edição de “Quilombo do Campo Grande[17].

Outra chance que o Professor teve de se aperceber de seus equívocos, também a perdeu, pois estava na fonte da afirmação que fez de que:

Afinal, a tropa chegou ao Quilombo Grande, que o povo denominava Quilombo do Ambrósio. Parte da negrada fugiu. Outra parte foi arrasada com as granadas e armas de fogo. Foi uma grande mortandade. Muitos foram feitos prisioneiros. A luta terrível durou 7 horas apenas. Tudo o que aí havia, casas, paióis, armazéns, tudo foi destruído[18]. Este texto, seguramente, teve como fonte a famosa carta que Câmara de Tamanduá escreveu à rainha Maria Iª em 20 de julho de 1793, documento este 100% ideologicamente falso.
Evidente, pois, que o Professor Waldemar de Almeida Barbosa leu esse conhecidíssimo documento publicado pela Revista do APM em 1897. Porém, pelo visto, não viu que esse documento, mentindo no contexto que tenta jogar o Primeiro Quilombo do Ambrósio para dentro do Triângulo,  registrou que:

O Quilombo da Boa Vista, de que fala a Ata da Guardamoria de Carrancas, ficava na “(…) serra vertentes do rio Sapucaí, defronte do destruído Quilombo do Ambrósio (…)[19]. Isto, realmente, confere com o mapa do Campo Grande que mostra, de um lado e de outro do rio Grande, portanto, defronte um do outro: a) na margem direita, a “Primeira Povoação do Ambrósio Despovoada“; b) na margem esquerda do rio Grande, “Quilombo da Boa Vista, aonde se fez a situação o cap. França“. Como se vê, para quem conhece a Geografia da região, esse documento falso não conseguiu enganar com o seu modus operandi de confundir e misturar datas e a geografia dos fatos.

Outra coisa que comprovamos, através de dezenas de evidências – umas sutis e outras gritantes – foi que após os ataques malsucedidos de 1746, Gomes Freire proibiu que se falasse o nome do Rei Ambrósio, bem como, que se fizesse qualquer referência ao local onde ficava a Primeira Povoação do Ambrósio. Pamplona continuou com esse “trabalho”, a mando do próprio Gomes Freire[20], inclusive para manter o obsessão desse governador falecido em 1763: abocanhar o Triângulo Goiano, hoje, Mineiro.

O segundo Quilombo do Ambrósio, situado na região entre as atuais Ibiá e Campos Altos só foi destruído por Bartolomeu Bueno do Prado em 1759. Recentemente, descobrimos nos arquivos do Ultramar, que a UnB pôs na Internet, que o Rei desse Quilombo do Ambrósio realmente foi morto somente em final de 1759, mas NÃO neste Segundo Quilombo do Ambrósio, o de Ibiá, que foi encontrado despejado mas, provavelmente no Quilombo da Pernaíba, localizado a norte da atual cidade de Patrocínio-MG.

Portanto, a alusão que, inadvertidamente, fez em 12.02.1757, José Antônio Freire de Andrada, irmão de Gomes Freire, ao “Quilombo Grande, junto ao do Ambrósio que da outra vez foi destruído[21] não pode se referir ao fato acima, que ainda não ocorrera. Portanto, o governador José Antonio só pôde ter-se referido ao Quilombo do Ambrósio de Cristais, na verdade, indicado como Primeira Povoação do Ambrósio na toponímia do citado Mapa do Campo Grande – como, aliás, restou provado pelas atas da Guardamoria de Carrancas, pelo Mapa de Todo o Campo Grande, pela Carta de Sesmaria de Constantino Barbosa da Cunha e o seu Processo de Demarcação, indicado pelo Professor Waldemar, e pela Carta da Câmara de Tamanduá/1793, entre outras dezenas de documentos que indicamos em nosso livro.

Nesta desatenção, o Professor Waldemar também não está sozinho. Fomos o primeiro autor a divulgar essa conclusão fartamente documentada, óbvia e ululante.

Aliás, até hoje, os doutores da USP e da UFMG que trataram desse tema em sua fábrica comum de mestres e doutores, não só negam todos os fatos acima demonstrados, como insistiam em fingir que os nossos livros não existem. Problema deles. O Arquivo Público Mineiro – APM, pôs na Internet todo o seu acervo colonial. Confira. A Unb, por sua vez, disponibilizou na Internet todo o acervo colonial do Ultramar. Confira. A casa caiu para a falsa historiografia.

O Professor Waldemar de Almeida Barbosa, ao contrário dos referidos doutores-historiadores de hoje, sempre procurou a verdade. Vejam-se, por exemplo, os títulos de algumas de suas obras, como “A Verdade Sobre Tiradentes“, “A Verdade Sobre Cláudio Manoel da Costa“, “A verdade sobre a história de Belo Horizonte“, etc. A Verdade… Porém, parece que sua autocrítica não conseguia diferenciar um paralogismo, um sofisma de um silogismo puro e imparcial.
Por isso, muito mais que Inácio Correia Pamplona e seus seguidores tentaram esconder, Waldemar, a meu ver, através de um paralogismo pueril, tentou desqualificar ou esconder a existência do Processo Judicial de Demarcação da Sesmaria do Quilombo do Ambrósio, que ficava em território da atual Cristais-MG

Assim, não temos certeza de que, se ainda fosse vivo, o Professor Waldemar iria reconhecer o seu “equívoco” ou se iria insistir no seu “Negros e Quilombos“, apesar de ter tentando nos dissuadir de considerar esse seu livro, hoje disseminado ou, como se diz atualmente, viralizado.
Por outro lado, é preciso ficar claro que o nosso confrade Dr. Leopoldo Corrêa também não propôs o debate. Em sua posterior edição de 1993, citou (ou manteve) apenas um trecho da carta da Câmara de Tamanduá à Rainha (1793), sem mencionar o capitão Antônio João de Oliveira e, como se não soubesse da documentação de 1746 (pois nem as menciona em seu livro), deu a entender, sem outra prova a não ser a carta de sesmaria de Bartolomeu Bueno do Prado, que só tinha existido o Ambrósio de Formiga-Cristais, tanto em 1746 como em 1759-1760, negando, pois, implicitamente, a existência comprovada do segundo Quilombo do Ambrósio, o de Campos Altos-Ibiá. Waldemar criticou, em parte equivocadamente, o livro de Leopoldo Corrêa; Leopoldo ignorou a crítica de Waldemar. Quase todos os contemporâneos confrades do IHGMG com quem conversamos nos disseram que, realmente, não era fácil expor e/ou conciliar divergências com o colega Waldemar de Almeida Barbosa.
A tese dos DOIS quilombos do Ambrósio, dando razão parcial – neste tema – a ambos os colegas, foi apresentada pela primeira vez em nosso Quilombo do Campo Grande – a História de Minas Roubada do Povo, no ano de 1995.
Portanto, esta nossa crítica técnica é uma homenagem ao trabalho do Professor Waldemar de Almeida Barbosa que, aliás, segundo dizem, era mesmo duro da queda e não gostava de ser confrontado. Nossos respeitos também ao nosso falecido confrade, Dr. Leopoldo Corrêa, com quem o reconciliamos e vice-versa.

Tarcísio José Martins

19.07.2009


[1] Autor de Achegas à História do Oeste de Minas – Formiga e Municípios Vizinhos.
[2] Autor de História de Oliveira.
[3] Negros e Quilombos em Minas Gerais, p. 21 e segs.
[4] Negros e Quilombos em Minas Gerais, p. 17-20.
[5] Negros e Quilombos, p. 79.
[6] Compare-se o 2º § de Negros e Quilombos, p. 31, com 2º § de p. 832, p. 834, 835 e seguintes da citada Revista do APM. Como se vê, o critério de Waldemar, aqui, foi usar a mesma fonte (sem valor histórico, como ele disse).
[7] Por exemplo em Negros e Quilombos em Minas Gerais, p. 39, citando SCAPM Cód. 45, fl. 78v. Waldemar usou informação fora de sua cronologia, pois o documento que cita está claramente datado de 03.10.1747, bem como, nada menciona sobre a Comarca do Rio das Mortes que está claramente indicada nesse documento.
[8] APM SC 45, fl. 64v (até 65).
[9] Negros e Quilombos em Minas Gerais, p. 33.
[10] Negros e Quilombos em Minas Gerais, p. 33.
[11] Negros e Quilombos em Minas Gerais, p. 33-34, cit. “Museu de São João Del Rei, Sesmarias, Maço C-1”.
[12] APM SC 140, fls. 111v a 113v, de 19.04.1765.
[13] APM SC 90, fls.36v a 37, de 24.03.1747.
[14] APM SC 129, fls. 99 de 18.12.1760.
[15] Destacando-se aquela encontrada em APM SC 103, p. 8v. a 12v., entre outras.
[16] Negros e Quilombos, p. 50, onde se equivoca também quanto ao número de casas do Quilombo do Careca.
[17] Quilombo do Campo Grande – A História de Minas Roubada do Povo, Editora Gazeta Maçônica, 1995, p. 175 e seguintes.
[18] Negros e Quilombos em Minas Gerais, p.38 e 39, sem citar qualquer documento . Confere, no entanto, com a “Carta à rainha Maria Iª”, de 1793, in Revista do Archivo Público Mineiro, Ano II, 1897, p. 376.
[19] Revista do Archivo Público Mineiro, Ano II, 1897, p. 386.

[20] AHU-ACL-N-MG doc. 66609, fls. 33.

[21] APM-SC 116, fls. 98, v e 99.